Efeitos da crise política nacional na Ciência necessária à conservação da biodiversidade
Paula Araujo Coelho, Ingrid Vitória Sousa de Freitas, Diogo Loretto
Bicho do Mato Meio Ambiente Ltda. Rua Perdigão Malheiros 222, Coração de Jesus, Belo Horizonte – MG, 30380-234
O Brasil é a nação mais biodiversa do mundo, mas apesar disso, o país sofre com uma crise no financiamento científico necessário para a conservação dos seus recursos. Isto fez o país cair de uma posição inovadora para uma incerteza sobre o futuro de sua biodiversidade e ciência. Este é o alerta feito por renomados cientistas, autores de um recente artigo publicado em uma das revistas científicas mais conceituadas do mundo no campo da biodiversidade (Frontiers in Ecology and Evolution). Coincidência ou não, o artigo é fruto de reuniões organizadas e financiadas pelo Ministério de Ciência Tecnologia Inovação e Comunicação para reestruturar seu programa de biodiversidade. No artigo os autores expuseram e apontaram diretrizes e recomendações sobre a conservação da biodiversidade brasileira para combater os efeitos da crise política, que tem sido usada como desculpa por grupos da sociedade que possuem interesses em enfraquecer o financiamento da ciência, a legislação ambiental e a execução das leis.
A importância da biodiversidade para processos ecossistêmicos e bem-estar social deve ser clara para toda a população brasileira e principalmente para o governo, mas infelizmente o que tem acontecido é o descaso em relação ao meio ambiente e o enfraquecimento da legislação ambiental. Recentemente, o governo brasileiro propôs e aprovou uma variedade de iniciativas e leis que ameaçam a conservação da biodiversidade, que podem aumentar o desmatamento da Floresta Amazônica, e aumentar a devastação no Cerrado, comprometer serviços ecossistêmicos e influir também negativamente em questões de saúde pública, como a emergência de endemias e epidemias de doenças tropicais, inclusive zoonoses.
Por fim, embora tenha sido publicado em outubro de 2018, os assuntos tratados pelos autores continuam atuais, essenciais e necessários para a sociedade. Houve mudança de governo em 2019, mas o viés não sofreu alterações desde o alerta dos autores nesse artigo. Os mesmos apontam uma série de ações para reverter essa situação negativa e retomar o investimento na ciência nacional. Destacam como urgente a revisão da emenda constitucional, para que o setor científico retome seu crescimento. Além disso, garantir que os investimentos coletados pelas iniciativas privadas e governo sejam aplicados na Ciência, criar uma espécie de observatório em que representantes da academia possam garantir que indígenas e outros habitantes tradicionais sejam efetivamente incluídos nas propostas para monitoramento e conservação. Por último e mais importante, revisar as leis que reduzem a proteção ambiental, a fim de modificar a realidade crítica que a biodiversidade e a ciência do país se encontra.
Acesse a publicação original em https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fevo.2018.00163/full
MAGNUSSON, W. E. et al. Effects of Brazil’s Political Crisis on the Science Needed for Biodiversity Conservation. Frontiers in Ecology and Evolution, v. 6, n. October, p. 1–5, 2018.