Utilidade pública: macacos e febre amarela

Os recentes casos sobre febre amarela no Brasil criaram um alerta sobre nossa fragilidade em lidar com problemas de epizootias e com, infelizmente, a falta de informação qualificada que é disseminada para a população. A mortandade de primatas não-humanos é uma ameaça a essas espécies já bastante afetadas por ações humanas. Além disso, alguns meios de comunicação passam uma mensagem errônea sobre a doença e seus vetores de transmissão, colocando ainda mais em risco os primatas não-humanos.

O professor Júlio Cesar Bicca-Marques, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, é um dos pesquisadores que vem tentando esclarecer a relação entre os primatas não-humanos e a febre amarela. Segundo o Dr. Bicca-Marques, os primatas (em especial dos bugios – gênero Alouatta) são nossos Anjos da Guarda. Ele criou uma campanha de conscientização no Facebook para isso (veja no final)

“ Os macacos são muito mais sensíveis a esse vírus de origem africana trazido para o Brasil pelo homem. Além disso, eles não têm acesso à vacina! A morte de macacos em grande quantidade devido à doença alerta os órgãos de saúde sobre a necessidade de vacinação da população humana.
– Os macacos NÃO são reservatórios da doença!
– Os macacos NÃO são os responsáveis pela chegada do vírus em suas matas!
– Os macacos NÃO são responsáveis pela disseminação da doença!

Ao contrário do que alguns meios de comunicação sugerem, os macacos, em especial os bugios um dos grupos mais afetados, usam áreas restritas em suas matas e raramente usam o solo e áreas descampadas/desmatadas para se deslocar de um local para outro.

É IMPOSSÍVEL que os macacos levem a doença adiante. Os mosquitos vetores-reservatórios (transmissores do vírus) e as pessoas, por outro lado, têm um poder de deslocamento muito maior. Além disso, as fêmeas de mosquito podem passar o vírus para as suas filhas ainda no ovo; ou seja, o mosquito já nasce com o vírus da febre amarela, sem a necessidade de picar uma pessoa ou animal infectado.

– A pequena parcela da população que não pode receber a vacina depende dos nossos Anjos da Guarda para se proteger. Sem os Anjos da Guarda nas matas, essas pessoas só saberão que o vírus chegou na sua região quando já estiverem expostas a ele.

Vale salientar, ainda, que a maior parte das pessoas infectadas pelo vírus da febre amarela não apresenta sintomas ou apresenta apenas sintomas leves. Isso significa que a maior parte das pessoas infectadas sequer fica sabendo que está com o vírus em seu corpo. O risco de morte da minoria que desenvolve a forma maligna da doença, por outro lado, é bastante alto (as estimativas indicam 50%; ou seja, uma em cada duas pessoas com a forma maligna).

A probabilidade das pessoas assintomáticas ou com a forma leve da doença e dos mosquitos serem responsáveis pelo deslocamento da doença de uma área para outra, como temos presenciado nos atuais surtos em MG, SP e ES, é REAL!

Precisamos analisar o cenário de fragmentação intensa da Mata Atlântica e o conhecimento extenso que dispomos sobre o comportamento e a ecologia de nossos macacos, dos mosquitos e da própria doença antes de acusarmos incorretamente os nossos Anjos da Guarda!

A descrição do ciclo silvestre contida nos livros didáticos, na qual o vírus circula entre os macacos e o homem não infectado entra na mata e é infectado com o vírus ao ser picado por um mosquito que adquire o vírus de um macaco, é o cenário MENOS PROVÁVEL nos surtos do centro-sul do Brasil. O que deve estar ocorrendo é que o deslocamento de pessoas e/ou mosquitos (os quais podem pegar carona com o homem) alastra a doença durante esses surtos de febre amarela no centro-sul do Brasil.

IMPORTANTE: Se a população brasileira estivesse vacinada contra a febre amarela (o Brasil produz a vacina), não estaríamos vivenciando todas essas mortes humanas. Não é muito mais simples?”

Ajude-nos a divulgar a Campanha “Proteja seu Anjo da Guarda!” sobre o papel essencial dos bugios no combate à febre amarela! (https://www.facebook.com/Campanha-Proteja-seu-Anjo-da-Guarda-243621236063810/).

Dr. Júlio César Bicca-Marques
Professor Titular
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul


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