A dura tarefa de se fazer pesquisa no Brasil
O duro caminho para se tornar pesquisador no Brasil.
Você já se perguntou o que é preciso fazer para se tornar um pesquisador no Brasil? Ou onde é produzida a pesquisa científica no Brasil? Já se perguntou se produzimos muito ou pouco? Se a qualidade é alta ou abaixo da média mundial?
Tentarei esclarecer essas questões ao longo de alguns textos.
Nesse primeiro texto, darei uma ideia dos passos necessários ou normalmente exigidos para se tornar um pesquisador de uma Instituição de Ensino Superior (IES) pública no Brasil.
A maior parte da produção científicas realizadas no Brasil é resultado de pesquisas realizadas dentro das IES, em especial nos Programas de Pós-graduação. Bom, dito isso, para você se tornar um pesquisador de uma IES, basta estar num programa de pós-graduação certo? Bom, a resposta pode ser sim (em algum outro momento, explicarei o porquê do “pode”), desde que:
- Você tenha feito seu doutorado (pós-doutorado desejável),
- Tenha uma boa produção acadêmica e,
- Que seja aprovado em um concurso público.
Fácil né? Bom, os itens um e dois são caminhos, digamos “naturais” e que com um certo esforço atingíveis relativamente facilmente. Entretanto, o terceiro é o grande funil da atividade pesquisador. Isso porque:
A mercado não consegue absorver o alto número de doutores “produzidos” pelas centenas de programas de Pós-graduação espalhados pelo Brasil. Imaginem o grande número (que continuam crescendo) de programas de Pós-graduações que existem no Brasil e que formam doutores a cada semestre? Com isso, a frequência de concursos públicos é extremamente baixa e com número de vagas bastante reduzido (normalmente 1 a 2 vagas por concurso específico). Assim, a concorrência que já é muito alta tende a aumentar cada vez mais alta com o passar do tempo. Vamos dar alguns exemplos atuais de concursos públicos na área de ecologia como exemplo. Em 2016, um concurso para a área de ecologia e conservação na Universidade Federal de Lavras (UFLA) contou com 123 candidatos homologados para uma vaga de professor. Sim, foram 123 doutores (pós-doutores e até professores já concursados em outras universidades) disputando uma única vaga.
Bom, outro fator determinante em concursos é seu processo de avaliação. Normalmente, os editais de concursos públicos contam com uma série de etapas algumas eliminatórias e outras classificatórias até chegar a um “ vencedor” dessa verdadeira maratona:
- a) Prova de conhecimento, normalmente eliminatória: essa é o primeiro gargalo do concurso. O candidato deverá escrever sobre um ou mais temas do concurso (normalmente entre 10 a 15 temas específicos da área do concurso). O candidato tem cerca de 4 horas para fazer a prova.
Passando dessa fase, com nota pelo menos 7 (na maioria dos concursos) vem a segunda etapa; b) Prova didática, que também tem caráter eliminatório. Nessa, o candidato tem 24 horas para preparar uma aula (nível de graduação) com duração de cerca de 50 minutos sobre um dos temas sorteados pela banca examinadora do concurso. Caso aprovado nessa etapa, também com nota mínima (geralmente 7), vem a terceira etapa c) Prova de títulos, essa normalmente tem caráter classificatório. A prova de títulos é de maneira geral, uma análise de seu curriculum vitae que pode ou não ter um modelo (dizendo aquilo que será pontuado). Entretanto, em alguns concursos para IES podem existir outras etapas, como defesa de memorial (curriculum comentado), apresentação de um plano de trabalho a ser desenvolvido pelo pesquisador e até mesmo prova prática. Essas etapas podem ter caráter tanto eliminatório quanto classificatório. O candidato aprovado será aquele que obtiver maior média em todas as etapas. Bom, nesse momento você faz parte de uma IES.
O próximo passo é, se credenciar numa pós-graduação dentro de sua IES. Os critérios de credenciamento variam muito entre os programas de Pós-graduação, mas de maneira geral, elas usam sua produtividade acadêmica como critério de credenciamento. Isso pode ser um novo gargalo para se tornar um pesquisador, mas isso discutiremos no próximo texto.
Apesar do processo ser longo e árduo, a atividade de pesquisa é, em minha opinião, extremamente gratificante. Acho que todo esse investimento válido para a participar da produção de conhecimento científico e da formação de novos pesquisadores.
Leonardo Oliveira